“Todos os vírus, incluindo o SARS-CoV-2, o vírus que causa a covid-19, mudam com o tempo. A maioria das mudanças tem pouco ou nenhum impacto nas propriedades do vírus. No entanto, algumas alterações podem afetar as propriedades do vírus, como a facilidade com que ele se espalha, a gravidade da doença associada ou o desempenho de vacinas, medicamentos terapêuticos, ferramentas de diagnóstico ou outras medidas de saúde pública e sociais”.
(OMS)
Desde o anúncio da pandemia, em 11 de março de 2020, a OMS tem acompanhado de perto o desenvolvimento do vírus, principalmente suas mutações. Portanto, a designação de “Variantes de Interesse” e “Variantes de Preocupação” é essencial para a comunicação entre a comunidade científica e não-científica.
As definições de cada categoria podem variar de acordo com o desenvolvimento das pesquisas; atualmente, os critérios para que uma variante entre nessas categorias, são:
VARIANTE DE INTERESSE (VOI)
- Apresentar alterações genéticas conhecidas por afetar as características do vírus, como transmissibilidade, gravidade da doença, escape imunológico, escape diagnóstico ou terapêutico e,
- Causar transmissão significativa na comunidade ou múltiplos clusters, em vários países com prevalência relativa crescente juntamente com o aumento do número de casos ao longo do tempo, ou outros impactos epidemiológicos aparentes para sugerir um risco emergente para a saúde pública global.
VARIANTE DE PREOCUPAÇÃO (VOC)
- Todas as da VOI;
- Ter um aumento da transmissibilidade ou alteração prejudicial na epidemiologia da covid-19; OU
- Apresentar um aumento da virulência ou mudança na apresentação clínica da doença; OU
- Exibir diminuição da eficácia das medidas sociais e de saúde pública ou diagnósticos, vacinas terapêuticas disponíveis.
De acordo com a tabela disponibilizada pela OMS, as variantes do SARS-CoV-2 conhecidas hoje são: VOC – Alpha, Beta, Gamma, Delta; VOI – Lambda e Mu.
A OMS destacou recentemente a possibilidade de acrescentar uma nova categoria: VUM – Variants Under Monitoring (Variantes Sob Monitoramento). Como é um processo que ainda está sendo avaliado pela comunidade científica, não iremos abordá-la neste texto.
O “AllplexTM SARS-CoV-2 Master Assay”, primeiro teste de diagnóstico de variantes do mundo, pode detectar a covid-19 e rastrear diversas variantes do vírus simultaneamente, em menos de duas horas, com um único teste de PCR multiplex em tempo real.
O teste de variantes pode detectar variantes do vírus, incluindo B.1.1.7, B.1.351 e P.1. O “AllplexTM SARS-CoV-2 Master Assay” também pode ser usado em conjunto com o “AllplexTM RV Essential Assay” como um ensaio de passo único para a triagem de 17 vírus-alvo causadores de infecções respiratórias.
Variante de Interesse – Mu
A variante Mu foi oficialmente registrada no início deste ano – Janeiro/21 e, o pouco que se sabe sobre ela foi o suficiente para classificá-la como VOI. Ela já está em circulação no país, assim como em outros 40 países, dentre eles os EUA, Equador, Canadá e Japão.
“A estimativa é que atualmente ela seja responsável por apenas 0,1% das infecções em todo o mundo. A variante tem sido muito mais prevalente na Colômbia do que em qualquer outro lugar. A Mu já é a variante predominante em circulação no país e responsável por mais de um terço dos casos da covid-19”. (Mariana Costa para o Estado de Minas)
De acordo com o artigo do Professor e Bioquímico Luke O’Neil, a principal dúvida sobre a Variante Mu é o seu nível de transmissibilidade.
“[A variante] Mu tem uma mutação chamada P681H, relatada pela primeira vez na variante alfa, que é potencialmente responsável por uma transmissão mais rápida. No entanto, este estudo ainda está em pré-impressão, o que significa que suas descobertas ainda precisam ser revisadas formalmente por outros cientistas. Não podemos ter certeza dos efeitos do P681H no comportamento do vírus ainda. Mu também tem as mutações E484K e K417N, que estão associadas à capacidade de evadir anticorpos contra o coronavírus – as evidências sobre isso são mais concretas. Essas mutações também ocorrem na variante beta e, portanto, é possível que Mu possa se comportar como [a] beta, contra o qual algumas vacinas são menos eficazes”
Um dos estudos preprint mencionado é o Neutralizing efficacy of vaccines against the SARS-CoV-2 Mu variant, dos médicos Kei Miyakawa, Sundararaj Stanleyraj Jeremiah,Hideaki Kato e Akihide Ryo da Universidade da Cidade de Yokohama (Japão).
Enquanto esperamos por mais informações sobre a Variante Mu, vale ressaltar que as medidas sanitárias e a vacinação são as melhores formas de diminuir o contágio do SARS-CoV-2.
Vacinação no Brasil
De acordo com o Ministério de Saúde, até o fechamento deste artigo, 237.425.768 de pessoas foram vacinadas – sendo 146.564.824 com apenas a primeira dose e 90.860.944 com a segunda dose ou dose única.
Nas últimas semanas nos deparamos com a notificação de algumas capitais sobre a falta de estoque da vacina AstraZeneca. Enquanto governadores e prefeitos culpam o Governo Federal pelo não envio das vacinas, os representantes federais alegam que os mesmos não estão seguindo o PNI – Programa Nacional de Imunização.
A desorganização e falta de comunicação de ambas as partes acabam prejudicando a população que agora precisa redobrar a atenção em relação ao calendário de vacinação já que serão compensados com a dose da Pfizer.
O sistema heterólogo não é o ideal, porém ele também não é prejudicial. O pediatra Juarez Cunha da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) diz: “Nós continuamos a defender que as pessoas tomem o mesmo tipo de vacina duas vezes. Mas é preciso reconhecer que o esquema heterólogo, com AstraZeneca e Pfizer, trouxe resultados iguais ou até melhores em comparação com o esquema homólogo.”
Dois estudos – da Alemanha e Reino Unido – apontam que o sistema heterólogo teve uma melhor resposta do sistema imunológico e o aumento de alguns efeitos colaterais mais leves, respectivamente.
Tanto o Ministério da Saúde quanto a OMS reconheceram que essa medida pode e deve ser aplicada em situações específicas, como a escassez momentânea de uma ou outra.
A epidemiologista Carla Domingues afirma que: “A eficácia da vacina depende do esquema completo, com as duas doses. Se tomar só a primeira, você não vai ter todo o efeito esperado, ainda mais num cenário marcado pelo avanço da variante Delta do coronavírus”
E o pediatra completa: “A segunda dose, mesmo com um pequeno atraso, é fundamental para melhorar a resposta imune e prolongar a proteção contra as formas graves de covid-19”.
Para evitar os quadros mais graves da covid-19 é preciso continuar com a vacinação e, principalmente, a testagem em massa. Apenas com um diagnóstico preciso é possível tomar medidas mais eficazes de proteção e monitoramento do comportamento viral pelo país.
[…] artigo anterior, nós já mencionamos as principais diferenças entre “Variantes de Interesse” e “Variantes […]